-----sexta-feira, agosto 01, 2003 | 0
Poesia retirada do blog Rufus: quase humano., de autoria dele mesmo, Rufus:
"Um poema singelo, melancólico, uma metáfora, com certeza, da tão arraigada incompreensão humana. Não vão chorar ao lê-lo, hein? Eu, você, todos nós nos sentimos um pouco como...
HAGERUP, O FEIO.
De manhã,
chovendo,
quis vir ao mundo,
e veio.
Nasceu como um ser humano,
mas não viveu como ele,
porque seu nome era
Hagerup, o feio.
Um dia,
há anos já nascido,
quis ter amigos
e não os teve – receio...
"Odeiam-me, entristeço-me..."
Cresceu como um ser humano,
mas não viveu como ele,
porque seu nome era
Hagerup, o feio.
E seu aspecto incorpóreo,
e su'alma pura...
Por que? O que a imagem faz
que seu pensamento não capta?
– Não, Deus, não o odeio.
Teve olhares sobre as pessoas, entristecidos,
e estas horrorizadas à sua presença.
Tudo isso porque ela era
Hagerup, o feio.
E fugiu um dia porque teve medo,
e o medo tomou o medo dele mesmo:
– a fobusfobia, seu feio!!!
As palavras seguiam-no,
maltratavam-no, apedrejavam-no,
porque ele nasceu como um ser humano,
e não viveu como ele,
pois era Hagerup, o feio,
quem a história narrava...
"Por que o suicídio,
se o vaticínio celestial me flui,
e dever meu é transmiti-lo a todos?
Não. Não vou exterminar-me.
Posso dividir minha alma ao meio,
mas serei sempre e sempre
Hagerup, o feio.
Porque dessa vida que tenho vida,
nada me trouxe a beleza, que não me veio."
E ele é hoje o poeta da angústia,
a astúcia em versificar a vida que leva,
e mesmo assim ser feliz por isso.
– "Isso? Isso o quê? O que é ser vivo,
quando vivo é aquele ser que nunca entristece, creio?
E ele não viveu como um ser humano,
mas morreu como um outro qualquer que se viu:
seu coração parou,
e sua vida se extinguiu.
Assim, de nunca mais se viu ou ouviu
Hagerup, o feio.
Hagerup, o bom.
(01/09/82)"
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