Nuvemquinta-feira, janeiro 31, 2008 | 0
1
Não vejo no céu claridade alguma,
Uma nuvem negra tudo encobre.
Não há estrela ou astro nobre
Que escapa da negra bruma.
Os dedos passam e nada sentem,
Nem para movê-la há fôlego capaz.
Por ajuda só encontro "Meu Rapaz,
tenha paciência" e não me mentem.
Sei que esperar devo, mas, lunático,
Na escuridão estou me afogando.
Fechar os olhos é sair do jeito prático,
Mas o sono acaba chegando,
E a mente de modo sádico,
Na luz acaba pensando.
2
Da nuvem negra sigo a origem,
E é de fogo que surgiu.
E na terra que o fogo tingiu
Há uma mão, e há foligem.
Mão no fogo por mim colocada
Quanta dor eu te causei...
Cego fui pelas jóias do rei
E agora a coroa está quebrada.
A elas, somente por costume,
Dá-se tanta virtude, tanto poder.
Mas o posto do vidro ninguém assume,
Mesmo sendo tão fácil de se fazer.
Pois na simples transparência resume
Todo o seu ser.
3
Esta nuvem, mesmo de fuligem grossa,
As vezes bruxuleia e vacila.
E nisso o coração se rejubila
Ainda que ver o céu não possa.
Acanhado, sento-me numa pedra e recordo
Das noites de lua, do quadro pintado,
Dos erros e do fogo tardiamente apagado
E cheio de mim, de mim transbordo.
Meu Mordred fui eu mesmo,
Criei quem me feriu e amaldiçoou.
Rei destronado andando a esmo,
Que antes de assumir já fracassou.
Só me resta esperar a fumaça dispersar
E voltar a viver, como realmente sou.
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