Mais uma vez, mais uma mágica,
não consigo evitar.
O espelho, moldura de prata,
já está em seu lugar,
deitado sobre minha cama.
Por ele derrubo delicadamente água,
e ao sabor salgado de minhas lágrimas que caem
começo a ver as imagens.

Uma bela donzela, princesa, em roupa de festa.
Todo bordado, os pequenos detalhes daquele vestido cor-de-rosa
realçavam toda a brancura e o frescor de sua pele,
e os detalhes de seu corpo.
Os cabelos, negros de leve tom rubro,
estavam trançados às costas, presos com um laço.
Em seu rosto, nada de maquiagem excessiva que é comum,
apenas seus lábios, vermelhos, destacavam-se em seu rosto,
sob o brilho magnífico dos rubis, seus verdes olhos.

Vinha em minha direção, conversávamos.
Em certa ocasião fomos, juntos, dançar,
numa bela valsa, sob o som de orquestras,
e os rostos próximos.
Ao final, cansados da multidão,
saímos ao ar livre, juntos, pudemos nos sentar,
para ficarmos admirando abraçados a bela lua que se erguia,
e que refletia-se, crescente, no pingente que carregava.

Voltei eu, então, a ver simplesmente meu reflexo.

A tristeza surgiu-me de relance.
Chovia naquele dia de festa,
não seria possível ver a lua.
Tal visão não seria verdade, um delírio apenas.
Um sonho que não se realizará.

Desta vez as lágrimas que caíram não eram para trazer imagens,
mas para afastá-las.