Sobre mim

"Sou Bacharel em Ciências Moleculares, e Doutorando em Física. Jogador inveterado de RPG e video-game. Terceiro-mestre na arte de pentelhar, e build full int/cha."


-----segunda-feira, dezembro 16, 2002 | 0


1 - O Julgamento

Confesso-me.
Peço perdão.
Estou preso atrás de grades,
numa cela sem paredes.
Pego o que estiver a mão
para fazer barulho.
Sob juramento,
digo apenas a verdade.
Como testemunha, palavras, amigas,
me ajudam a tirar-me a culpa,
que sei que tenho,
sob pretexto de não saber o que faço.
E realmente não o sei.
O faço por instinto.

Minhas grades são horizontais,
impressas num caderno,
e você, leitor, é meu juiz.
Irá me absolver??
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2 - A Confissão

Minha poesia não é minha,
é tudo roubado.
O lápis com que escrevo não é meu
(é de meu irmão).
O caderno no qual escrevo não é meu
(o dinheiro que o compro é de meus pais).
As palavras que escrevo não são minhas
(são de nossa língua portuguesa).
As figuras que uso não são minhas
(são de reais poetas).
As rimas que uso também não são minhas
(e já estão até desgastadas de tanto serem usadas).
Os sentimentos que me são assunto não são meus
(são de todos, todos os têm).
As imagens que descrevo não são minhas
(são cenas de filmes ou da vida).

A musa a quem escrevo não é minha
(ela não me quis).

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3 - O Veredito

-Após a análise dos fatos,
juntando palavras e cacos,
chegou-se a um veredito,
que agora será lido.

O réu foi considerado culpado
pelo crime de ser diferente do esperado
por tentar ser bom e romântico
distoando assim do usual cântico.

Sua pena será não mais falar,
utilizará apenas o papel para se expressar,
já que foi isso que ele quis.
Além disso, perderás o direito de ser feliz.

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4 -

E assim foi meu julgamento encerrado,
condenado a ser sempre mal-amado.
O mais estranho é que a pena veio antes de o crime ocorrer,
antes mesmo de eu nascer.

Agora sabes porque escrevo,
escrevo simplesmente porque o devo,
este é meu eterno castigo,
lápis e papel estarão para sempre comigo.

Ainda atrelado ao julgamento
o que escrevo nunca invento,
é sempre verdade, óbvia ou disfarçada,
quem me conhece não tem dificuldade em desvendá-la.

Se me chamam de poeta
não sabem quanto a poesia de um deles é mais bela.
Se escrevo, é por obrigação,
não tenho outra opção.
Pelo beletrismo não tenho ambição.

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