Texto RPGístico:
O fogo crepitava e queimava. As labaredas, alegres, iluminavam-nos, e faziam o negror noturno se agitar.
Sentados à fogueira estavamos eu, meu pai e meu irmão. Ao lado, o cesto com comida, sendo posta aos poucos no fogo. A cada nova folha, a cada novo peixe, sempre diferentes dos anteriores, a fogueira aumentava seu brilho.
-Pai, porque jogar esta comida no fogo? Porque não comê-la? - meu irmão lambia os beiços.
-Esta comida nãoé para nós. Estão com fome? - e, com sua autoridade, severa e sábia, mas nunca aborrecida, meu pai aponta para mim - Vá lá pegar comida para vocês.
-E você, meu pai? - perguntei, mas em sua concentração ele não respondeu.
Após comermos, sentamos novamente ao lado da fogueira e de nosso pai. Só algumas folhas restavam no cesto. Ainda com seriedade, meu pai virou-se e começou a falar:
-O Frescor foi criado, e dele surgiu tudo. O Frescor nos permeia, no vento, dentro de nós, e dentro de todas as outras coisas também. Quando comemos, é o Frescor que nos nutre, quando nos machucamos é o Frescor que se esvai, quando respiramos é o Frescor que buscamos.
-Se tudo tem Frescor, porque comemos só algumas coisas? - perguntei, me esforçando para entender tudo aquilo.
-Com o tempo, o Frescor se modifica. O Frescor de uma planta não é o mesmo do de outra planta. E só alguns deles são nutritivos na barriga, assim como respirar o Frescor do ar não tira nossa necessidade de Frescor de carne. - Após responder-me, meu pai deu uma pausa, como que para refletir e lembrar onde tinha parado, mas rapidamente continuou.
-Quando morremos, em nosso ultimo suspiro é o nosso Frescor que está saindo. Mas este Frescor continua a ser Frescor-pessoa, ao menos por algum tempo, antes de virar Frescor-ar. Para que isto demore, e tenhamos por mais tempo o Frescor-pessoa de nossos amigos e parentes a nos proteger, temos que alimentá-los, e é por isso que queimamos os alimentos. Para que o Frescor se libere, e possa ser absorvido. O brilho da fogueira é o agradecimento pelo Frescor que estamos liberando.
-E, olhem alí - disse, apontando para um canto nas árvores, onde a luz da fogueira mal alcançava.
-Uma fera! - eu disse, pulando de medo. Era gigantesca, e mesmo com a fraca luz consegui distinguir seus grandes e afiados dentes, e sua pele dourada com manchas.
-É um Jaguar, meu filho, e é por ele que você foi nomeado. Se você conseguir sustentar o Frescor-Jaguar como amigo, será muito forte, talvez até mais que seu pai e seu irmão.
-Mais forte que você é impossível, pai! - disse espantado com a frase, e ainda com medo do grande felino.
-Sim, mais forte. Mas não precisa ter medo, ele não nos atacará. E sabe porque? Ele quer Frescor. Veja - e atirou as ultimas folhas na fogueira. A crepitação da fogueira desta vez foi acompanhada de um rugido. O Jaguar, após fungar algumas vezes, virou e foi embora
Ficamos o resto da noite na fogueira, escutando as histórias e lendas que meu pai contava. E o fogo continuou queimando, crepitando, as labaredas dançando alegremente, elevando Frescor e fumaça numa trilha às nuvens.